quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

RESENHA

EGIPTOMANIA: O EGITO NO BRASIL
Amanda Martins Hutflesz1

Margaret Marchiori Bakos é Doutora em História pela universidade de São Paulo (USP). Fez Pós Doutorado em Egiptologia no University College London, é professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). É coordenadora do projeto Egiptomania no Brasil (CNPQ). Além desta publicação, a autora tem diversos artigos publicados sobre temas relacionados ao Egito Antigo. Drª Margaret atua como organizadora desta obra que teve sua publicação pelo Editoral Paris, no ano de 2004.
Esta obra se encontra aqui disponibilizada de forma resumida, e conta com 191 páginas e organizada em 13 capítulos. Cada capítulo do presente livro trará assuntos que abordam o Antigo Egito em algum de seus múltiplos aspectos. Faz-se necessário explicitar ainda que, este livro foi fruto do trabalho de vários egiptólogos brasileiros, e foi escrito com a colaboração de todos eles. Assim, colaboraram alguns doutores em História Antiga, professores e demais colaboradores os quais atuam academicamente dentro do tema do estudo em Egito Antigo.
Além da pesquisa desenvolvida pela Drª Bakos, a obra traz capítulos escritos pelos seguintes Egiptólogos: Dr. Antônio Brancaglion Jr.2, Dr. Moacir Elias Santos3, Drª Márcia Raquel Brito4, entre outros. Contamos ainda com a participação do Historiador, Doutor Ciro Flamarion S. Cardoso5, falecido em setembro de 2013.
Ao final de cada capítulo, o leitor pode encontrar diversas notas explicativas e referências bibliográficas, já que se encontram disponibilizadas ao decorrer das laudas, para melhor orientar a leitura e a pesquisa daqueles que, tencionam escrever sobre os temas descritos em cada parte desta obra.
No início do livro, logo na segunda página encontramos a imagem da Pedra de Roseta, a qual, já no começo século XIX, possibilitou ao francês François Champollion, decifrar o significado da escrita hieroglífica, o que antes se fazia inviável para muitos estudiosos, já que a Pedra foi escrita em Grego, Demótico e Hieroglífico.
A organização do sumário segue abaixo disposta:
 
1- Introdução;
2- Como o Egito chegou ao Brasil;
3- Coleções Egípcias no País;
4- A presença do Egito Antigo nos cemitérios;
5- Arquitetura Egípcia entre nós;
6- Obeliscos Brasileiros;
7- Arte e decoração Egipcíaca;
8- Festas, carnaval e Egito Antigo;
9- A Ordem Rosacruz e a Arquitetura Egípcia;
10- Marketing e Egito;
11- O Egito na sala de aula;
12- Egito na Poesia Brasileira;
13- Egiptomania na Literatura.

Como mencionado acima, a organização do livro é feita pela Drª Margaret, e tem sua introdução escrita pela própria professora. Aqui, ela nos explica o como o Egito “chegou ao Brasil”, e disponibiliza além de textos, diversas imagens, hinos, preces egípcias, e escreve-nos a respeito da grande influência egípcia na arquitetura, escultura e pintura no nosso País.
No capítulo reservado para a Introdução, Bakos nos chama à atenção para a grande curiosidade que impulsiona o trabalho dos profissionais da área de Egiptologia e Arqueologia, bem como amor de todos aqueles, os quais são constantemente atraídos pelo assunto “Antigo Egito” e “Egito Faraônico” e mais por tudo o que contempla este incrível universo temático e histórico, repleto de mistérios, ritos, mitos, magia, exoticismo que encanta há centenas de pessoas ao redor do mundo, desde os primórdios da humanidade.
A autora discorre também sobre o trabalho sério e empenhado dos arqueólogos, que, através do resultado de suas múltiplias pesquisas, auxiliaram na elaboração e publicação desta obra, até então de caráter inovador e inédito para a época. Margaret trabalha com a fundamentação teórica de Jean-Marcel Humbert, o qual é considerado academicamente, como uma autoridade no assunto da Egiptomania, e possui reconhecimento internacional sobre essa temática.
Margaret traz à tona a História da Egiptomania, sua expansão e divulgação no Ocidente, e também informa ao leitor que, foi no século XIX, que a Família Real Portuguesa (que já se encontrava vivendo no Rio de Janeiro desde a chegada da Côrte, em 1808) passa a explicitar mais fervorosamente, seu grande interesse em colecionar objetos egípcios. Assim, Foi nosso primeiro Imperador, D. Pedro I quem “a priori”, comprou de um homem chamado Nicolau Fiengo em 1824 diversas peças egípcias no Porto do Rio de Janeiro. Eram artefatos de valor religioso, e inclusive havia algumas múmias para a venda.
Percebemos ainda através da leitura deste livro que, já o nosso segundo Monarca, Dom Pedro II, e a sua Família Imperial Brasileira, possuíam da mesma forma, um grande interesse pela Civilização Egípcia. Portanto, D. Pedro II chegou a viajar para o Oriente duas vezes (1871 e 1876), escreveu no Egito um diário de viagem, (em francês) e chegou inclusive a ganhar de presente do cadiva local, uma múmia, chamada de Sha Amun En Su (os campos verdejantes de Amon) que manteve consigo em sua residência no Rio, desde quando a recebeu do chefe de Estado egípcio (1876) até que esta fosse ser exposta em um museu.
Atualmente, a Coleção Egípcia pertencente à Família Imperial Brasileira e à Família Real Portuguesa, se encontra em exposição, na sala egípcia do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Além deste fato que Margaret Bakos menciona neste trabalho, a Dr.ª cita também, a figura singular do Imperador Augusto, que em Roma, com o propósito de demonstrar ao povo poder e grandeza, além de tudo, agiu motivado pelo seu imenso sentimento de vaidade, e acabou por providenciar o deslocamento de alguns obeliscos e monumentos egípcios do Egito para Roma.
Já nas páginas que se seguem, alguns egiptólogos como o Dr. Antõnio Brancaglion Júnior expõe para o leitor, curiosidades a respeito de colecionadores brasileiros que, constantemente estavam em busca de peças egípcias para comprar e com isso, decoravam também suas residências. Alguns colecionadores, até mesmo ganhavam as peças egípcias de presente, ou compravam em suas viagens pelo mundo e ao Egito.
O uso de artefatos egípcios é mencionado como forma de decoração no interior dos ambientes, constantemente agrada a centenas de pessoas, já que, esses lindos objetos tendem a fascinar a todos, e despertam um sentimento de paixão e fascínio a sua volta. E isso ocorre tanto aqui, no Ocidente, bem como no próprio Oriente. Um número enorme de pessoas coleciona artefatos egípcios em casa. Essa prática ocorre, principalmente por parte dos milionários, já que viajam muito e tem livre para poder freqüentar constantemente os leilões. Esses indivíduos se tornam muitas vezes colecionadores de objetos egípcios. Eles compram, em geral, suas relíquias em leilões, importam do mercado negro, ou até mesmo, trazem do Egito de forma ilegal.
Ao lermos o livro até o fim, chegamos à conclusão de que: Como não amar uma História que trata de tantos assuntos a respeito do Egito Antigo? Pirâmides, múmias, sarcófagos, gatos, pássaros, touros, estátuas, grandiosos monumentos feitos para alcançar a eternidade, amuletos, rituais de teor mágico, cuja essência sempre nos pareceu enigmática, porém interessante. Um mundo exótico, sempre envolto em uma áurea de mistério, repleto de deuses, hinos, livros sagrados, preces e encantamentos, demonstrando que, para os egípcios, o mundo espiritual, estava constantemente conectado com mundo físico. A esfera religiosa caminhava lado a lado com a esfera política e econômica. Havia a crença de que tudo estava interligado; E assim, os homens almejavam alcançar o “Status Quo” dos deuses, tão rápido isso lhes fosse possível durante sua vida aqui na terra.

Esta publicação traz imagens de construções com temas egípcios, deuses, hieróglifos, pinturas egípcias em grandiosos monumentos. Pois sabemos que, muitas construções eram dedicadas aos mais poderosos faraós do Egito Antigo, e atuavam como sinônimo de poder e afirmação perante o povo, simbolizando assim, o caráter divino e supremo dos monarcas.
Os egiptólogos também escrevem a respeito de propagandas e marketing desenvolvidos em épocas e cidades distintas, usando o tema de Egito. Com isso, a divulgação ganhava espaço, aumentava e as vendas para os empresários, gerando lucro certo e garantido. Vender o nome “Egito” passou a ser mais eficaz. Chamava mais à atenção das pessoas para a compra ou contratação de serviços publicitários.
Logo adiante, o leitor poderá obter mais informações nas páginas que tratam dos conhecimentos a respeito da Ordem Rosacruz,e adentrar em sua História. Para tanto, Bakos conta com a experiência e o auxílio de alguns profissionais da área de História, tais como da Historiadora Vivian Noitel Valim, 6do Dr. Moacir Elias7 e do professor pesquisador Thiago José Moreira8 para desenvolver o texto o qual compõe este capítulo.
Os autores escrevem aqui, escreverão suas narrativas e experiências, suas Histórias sobre o Egito Antigo. E por isso, conseguimos desta forma, depreender melhor todo o caráter místico das representações artísticas desenvolvidas sobre a arte egípcia, a pintura, a escultura é incrível, além de esteticamente atraente aos olhos. O próprio processo da mumificação do corpo do falecido, pelo qual era fundamental passar e que possibilitava que o espírito (ou Alma) do morto pudesse viver eternamente. O Egípcio Antigo ainda em vida almejava, mais do que tudo, conseguir chegar ao Além, livre de todos os perigos do Pós-Vida. E, para tanto, precisava contar com o auxílio dos sacerdotes e embalsamadores, para que, através das práticas religiosas e funerárias (que variavam de período e de local).
O Dr. Ciro Flamarion9 encerra as Histórias desta obra, falando do papel da Egiptomania na  Literatura. Ele nos explica o significado dos termos:
Egiptologia: É a ciência dedicada a estudar o Antigo Egito;
Egiptofilia: É a busca constante e apaixonada pela aquisição de artefatos egípcios.
Egiptomania: Reinterpretação e reutilização de traços específicos da Cultura Egípcia
Vale muito a pena para todos os interessados em estudos sobre Egito Antigo, tomar conhecimento ainda das páginas finais da presente publicação. Pois, é possível encontrar uma grande quantidade de obras para referência bibliográfica.


BAKOS, Margaret Marchiori, (Organizadora). Egiptomania: O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004.

1 Amanda Martins Hutflesz é professora de História e possui Licenciatura e Bacharelado no Curso de História, pela Universidade Católica de Petrópolis (2011). Iniciou segunda graduação no curso de Línguas Inglesas (Universidade Estácio de Sá/2016); Cursou especialização em Língua Inglesa na área de Egiptologia (Coursera - Plataforma online), sob orientação dos Doutores David P. Silverman e Joyce Tildesley; Pós Graduanda em Cultura Afro-Brasileira (UNOPAR); Freqüentou os cursos de especialização em Língua Egípcia e Religião e Arqueologia Egípcia (UFRJ-UERJ/ 2014-2015); Atualmente é membro e pesquisadora do Grupo de Estudos GEKemet (UFF) com ênfase em Egiptologia e Arqueologia Egípcia e pesquisadora e colaboradora do NEA – Núcleo de Estudos da Antiguidade (UERJ).

2 Dr. Antônio Brancaglion Jr. é Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP); professor adjunto do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); É Egiptólogo e Responsável pela Coleção Egípcia do Museu Nacional (UFRJ); Pesquisador Visitante do Institut Française d'Archéologie Orientale du Caire (IFAO); Professor e Orientador do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Arqueologia do Museu Nacional (UFRJ); Professor e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Judaicos e Árabes ( FFLCH-USP); Professor Colaborador do Curso de Pós-graduação em História da Arte (FAAP); Coordenador do Seshat (Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional-UFRJ).


3 Dr. Moacir Elias Santos possui graduação em Arqueologia pela Universidade Estácio de Sá (1999), Mestrado em História Social (Setor temático de História Antiga e Medieval) pela Universidade Federal Fluminense (2002), com dissertação na área História Antiga (Egiptologia), e doutorado em História Social também pela Universidade Federal Fluminense (2012), com tese na área História Antiga (Egiptologia), sob orientação do Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso. Seu pós-doutorado em História foi realizado na Universidade Estadual de Ponta Grossa (2014), com uma pesquisa sobre “Usos do Passado” nos cemitérios paranaenses. Atualmente é professor de História Antiga e Arqueologia do Centro Universitário Campos de Andrade, em Curitiba, onde desenvolve pesquisas e orienta projetos de graduação. Também coordena, leciona e orienta no Curso de Especialização (Lato Sensu) em História Antiga e Medieval das Faculdades Itecne, em Curitiba. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: História Antiga, Egiptologia, Arqueologia e Egiptomania.
 
4 Drª Márcia Raquel Brito possui Mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007). É professora de história e ciências sociedade e Valores da Escola Técnica Dimensão. Tem experiência na área de História, com ênfase em História, atuando principalmente nos seguintes temas: Egiptomania, marketing e obeliscos.

5 Ciro Flamarion Santana Cardoso foi professor titular de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF); Doutor pela Universidade de Paris X; membro do Centro de estudos Interdisciplinares da Antiguidade (UFF). O Doutor Ciro Santana Faleceu em setembro de 2013.

6 Vivian Noitel Valim Tedardi é Historiadora, Coordenadora do Centro Cultural AMORC.
7 Op., Cit., p. 2.
8 Thiago José Moreira é pesquisador do Museu Egípcio Rosacruz e professor de História o Ensino Médio e Fundamental

9 Op., Cit., p.2.

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