"DIONISO, NA GRÉCIA; HATHOR, NO EGITO. SUAS SIMILARIDADES E ESPECIFICIDADES"
Autor (a): AMANDA MARTINS HUTFLESZ
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS, 2010
CURSO DE BACHARELADO E LICENCIATURA EM HISTÓRIA
Neste artigo, a autora tenciona estabelecer paralelos entre estes dois deuses da Antiguidade Clássica, e objetiva pesquisar sobre os assuntos abaixo mencionados, na tentativa de obter algumas respostas para questões que possam vir a ser de interesse nas áreas de História Antiga, Egiptologia, arqueologia, sociologia, bem como os estudos de humanidades em geral.
Questões propostas à elucidação:
O culto era parecido de ambos, mudando somente de região?
Ambos eram deuses que velavam pelas mesmas práticas?
O período de origem foi similar?
Aqui, a autora objeiva realizar uma reflexão sobre a finalidade de cada deus e seu culto no local de origem de cada um
O conteúdo do artigo foi constituído por meio de pesquisa em fonte/ documento
Segundo a autora: "(...) certos rituais da religião funerária egípcia que tinham como propósito, conduzir o morto à vida eterna, o que passou a ocorrer, principalmente à partir da elaboração do Livro dos Mortos, o qual data da XVIII dinastia, utilizando fórmulas mágico-rituais com o intuito de proporcionar ao morto uma viagem para o mundo subterrâneo mais segura e menos aterrorizante."
(HUTFLESZ, 2010: p. 01)
E ainda, : "busca-se compreender melhor o pensamento religioso egípcio, o qual era ético por excelência. Para este povo, as boas ações do homem eram sempre recompensadas na vida após a morte. Vale ressaltar que a preparação do corpo era uma prática religiosa, nomeada como mumificação, onde teve seu início na IV ou na V Dinastia, segundo estudo das fontes."
(Op. cit, 2010: p. 01)
"A figura do deus Dioniso, permeia o imaginário grego; Já a deusa Hathor, está diretamente relacionada à religião egípcia." E, "Diónisos ou Dionísio era um deus cultuado na Grécia, o deus das festas, do prazer, do vinho, da diversão. Era filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus filho de um mortal. Era semelhante ao deus Baco, o qual era cultuado em Roma." (Op. cit, 2010: p. 02)
"Na antiguidade, o culto de Dionísio teve seu início na cidade chamada Trácia, Lídia (o nome Baco pode ser de derivação Lídia), Frígia para a Grécia aproximadamente no oitavo século a. C. Tal culto tende a mostrar aos gregos algo novo para este povo: Uma espécie de euforia, êxtase e entusiasmo em meio à bebida, música e dança até então desconhecidos. Dionísio tem por esposa uma mulher chamada Ariadne."
“Dioniso é considerado pela historiografia como um dos deuses mais controversos do mundo grego grego antigo.”
De acordo com BARBOSA (2008: p. 1): "Uma divindade em particular sempre mexeu com o imaginário grego e a capacidade individual e coletiva de culto: trata-se do deus Dioniso. Uma das figuras mais debatidas e controversas da religião grega, Dioniso nunca foi estático, esteve sempre em mudanças – de aspectos e também de lugares (...)"
"A origem do deus é controversa. Considerado filho de perséfone, também recebeu o nome de Ctônio, 'o subterrâneo'. Dioniso costuma aparecer como um deus estrangeiro. Provavelmente asiático."
"Algumas outras facetas do rito não eram aceitas por toda a a população, e muitos cultos deveriam ser praticados nos bosques, longe dos olhos do poder oficial, transformando assim Dioniso em uma divindade ctônica, dos bosques e florestas. "(BARBOSA, 2008: p. 3)
“Não se pode dissociar a dramatização das tragédias gregas que envolvem divindades sem atentar-se para a representação real que era conferida a esta divindade.” (BARBOSA, 2008: p. 4)
“ As opiniões das pessoas em sua maioria também possuíam um caráter social, seja para questionar ou elogiar a política, as práticas culturais ou religiosas.” (BARBOSA, 2008: p. 4)
“Como um deus pode ser tão controverso em suas representações sem dúvida é fascinante, e cabe aos estudiosos o papel de problematizar estas questões.” (BARBOSA, 2008: p. 5)
"A cerveja era a bebida rotineira da dieta egípcia, pois o processo de fabricação e fermentação a tornava potável e mais saudável que a água e, assim, era servida no café da manhão, almoço e jantar. Nas celebrações mais importantes, o vinho era a bebida predileta." (ELLIS, 2003: p. 44)
“O vinho de Hathor produzia o êxtase da deusa, uma embriaguez entusiástica e sagrada que exaltava e, ao mesmo tempo, acalmava.” (Apud C. J. Bleeker, 1967: p. 91)
Em tempos de guerra, Hathor era honrada principalmente por tais dons. Todo precisamos de vávulas de escape para o estresse, frustração e raiva, e o festival da Embriaguez – ou da qualidade inebriante-- de Hathor era a oportunidade esperada. Durante o festival, homens e mulheres “libertavam-se dos sentimentos desagradáveis, ressentimentos e paixões reprimidas (...). (ELLIS, 2003: P. 46)
A dupla personalidade de Hathor é muito interessante. Seu temperamento volátil vacila entre os extremos do fervor militarista e o êxtase religioso. Não me surpreende o fato de Ricardo Coração de Leão carregar o emblema de Sekmet pela Europa e Ásia durante as Cruzadas. (ELLIS, 2003: p. 46)
Na tradição egípcia, Sekmet representa a deusa idosa, o aspecto mãe é representado por Bast e o aspecto virgem é representado por Hathor. As três deusas representam os estágios dos mistérios de sangue que regem a vida da mulher como amante, esposa e mãe e, finamente, a mulher mais velha da tribo. (ELLIS, 2003: p. 47)
A embriaguez sagrada dos antigos egípcios permitia a entrada em estado alterado xamanista, no qual a pessoa pode vivenciar formas elevadas de união extática e sentimentos amorosos e, dessa forma, oferecer à humanidade um meio de aproximar-se do Divino a e experiência de exaltação da deusa e do deus. Na maior parte dos casos, a bebida e o som destinavam-se a propósitos religiosos. A bebida permite que o devoto tenha a oportunidade de participar do mistério da, entender a natureza da oferenda e do sacrifício e destacar o amor abundante colocado à disposição da humanidade pelas mãos do divino. (ELLIS, 2003: p. 43)
“Como em qualquer cultura, a bebida oferece a chance de relaxar e banir preocupações mundanas, sinaliza a comunhão entre amigos e reúne em círculo pessoas que apreciam a companhia umas das outras.” (ELLIS, 2003: p. 44)
Certamente, o papiro – assim como as rosas, hoje – deveria ser uma oferenda apropriada a um amante ou a Hathor, a própria deusa do amor. O cetro favorito da deusa era um broto de papiro com caule longo. Esses brotos secos contêm um número de sementes soltas que produzem um som sibilante musical quando são chacoalhadas. Esses chocalhos naturais podem ter sido os arquétipos dos sistros sagrados de Hathor. (ELLIS, 2003: p. 109)
No antigo Egito, Hathor era a deusa mais popular entre as massas, seus cultos sendo mais antigos que os de Ísis e de muitos dos deuses. A imagem dela como a deusa de chifres dançando aparece esculpida nos paredões dos desfiladeiros da savana desde 6000 a.C. Lá podem ser vistas imagens de animais do campo e animais selvagens que eram levados para que Hathor os abençoasse. (ELLIS, 2003: p. 77)
Embora ela ainda não tivesse nome naquela época anterior à invenção da escrita, sua imagem permaneceu a mesma por toda a história. Ela era a deusa que aparece na Paleta de Narmer, o primeiro documento inscrito do primeiro rei egípcio. Ele proclamou a unificação do Alto Egito com o Baixo Egito, sob o domínio da deusa vaca, mãe do deus falcão, Hórus. O nome da deusa, que aludia ao seu domíno celeste, era Het-hor, traduzido literalmente como “A casa do exaltado”; ou seja, o céu como lar do falcão Hórus. (ELLIS, 2003: p. 77-78)
“Os gregos a amavam, comparando-a a Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza.” (ELLIS, 2003: p.78)
“Ninguém gostava de festas mais do que Hathor, a deusa da música, da dança e do júbilo. Um dia apenas não era suficiente para celebrar seu aniversário; na verdade, o mês inteiro era devotado à deusa e suas festividades.” (ELLIS, 2003: p.78)
“Também em Tebas, ela era a deusa da necrópole. Sua imagem aparece em vários túmulos faraônicos, às vezes como a vaca amamentando, o sicômoro, a Senhora do Pico, ou simplesmente como um abela deusa, segurando as mãos dos mortos.” (ELLIS, 2003: p.78)
Hathor não só representava o prazer sensual da boa vida na terra, mas também prometia alegria e beleza na vida após a vida. Seus templos podiam ser encontrados Mênfis, Tebas, no Sinai e em Cusae, onde ela era associada à deusa grega Afrodite Urânia. (ELLIS, 2003: p.78)
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